O suíço Guilherme William Michaud (Vevey, Suíça 1829 – Colônia do Superagüi, PR 1902), com a permissão dos pais, veio para o Brasil em 1849 e em 1854 chegou em Superagüi, onde conheceu Custódia Américo, com quem se casou e teve nove filhos.




William pisou em território brasileiro dia 1º de fevereiro de 1849, na cidade do Rio de Janeiro, aos 20 anos. A época de miséria que se vivia em sua terra natal foi motivo para partida, também influenciada sua vida, ao comércio de madeiras, quando a colônia atravessava uma complicada situação financeira. Ele tinha consciência de que o desmatamento selvagem estava destruindo florestas ainda virgens. O dom de pintar e desenhar foi nato em William Michaud, uma vez que nunca recebeu instrução artística, além daquela oferecida na escola de forma simples. Seu talento ficou adormecido por muito tempo. Somente passados 30 anos após sua chegada em Superagüi, quando seus filhos estavam crescidos e o ajudavam na agricultura, decidiu se dedicar à arte.

   

De espírito aventureiro, Michaud foi um desenhista autodidata, fazendo da natureza a sua oficina de aprendizagem. Sem máquina fotográfica para registrar a paisagem que admirava, o artista reproduzia as imagens de Superagüi em apurados desenhos e aquarelas, ricamente coloridas, apesar das poucas tintas disponíveis.

“O resultado era surpreendente, ele criava verdadeiras obras primas, que demonstram um sólido conhecimento anatômico e da estética natural”, afirma a curadora Suely Deschermayer. Os trabalhos eram enviados aos parentes na Suíça para que eles conhecessem o lugar onde vivia com sua família. William motivou-se a pintar e desenhar tudo que estava a sua volta. Foi a única saída encontrada, uma vez que, naquela época, não havia fotógrafo em Superagüi, devido ao isolamento geográfico. Após a vinda ao Brasil, William nunca mais reveria seus parentes suíços. Nas cartas que enviava ao seu país de origem, pedia sempre à família materiais adequados para desenhar e pintar. Nem sempre, porém, tinha à disposição tudo de que necessitava e, mesmo desse modo, produzia desenhos bem trabalhados, que parecem gravados em  cobre. Suas aquarelas são bastante coloridas, apesar de normalmente ter em mãos poucas tintas para utilizar. Em detalhes, suas obras retrataram a floresta virgem, o crescimento das árvores, o amanhecer, o pôr-do-sol e outras belas imagens da região.

O suíço William Michaud vivia principalmente da agricultura e também da pesca. Mas, devido ao conhecimento que possuía, exerceu também na colônia as funções de professor, agente do correio, Juiz de Paz e secretário da Associação de Imigrantes. No entanto, é lembrado até hoje por seus desenhos e pinturas, que retratam a vida cotidiana dos habitantes de Superagüi na época e também a beleza da paisagem natural que os cercava. Acredita-se que a fascinação que William tinha pela natureza da região foi também fator determinante para que ele fixasse sua residência em Superagüi.

Já nos últimos anos da vida de William Michaud, a colônia de Superagüi empobreceu: houve queda no preço do café, um dos principais produtos lá cultivados, e aconteceram também desordens políticas, ocorridas após a transformação do Brasil em República. Além disso, a falta de vias de comunicação não favorecia, por exemplo, a comercialização dos alimentos produzidos.




William Michaud morreu em setembro de 1902 e foi enterrado no cemitério de Superagüi. Hoje, com o crescimento da vegetação, não é possível identificar seu túmulo. Grande parte da produção do artista encontra-se na Suíça, doada pelas irmãs ao Museu de Vevey. Outra parte Michaud doou ao então governador da província, Visconde de Taunay, de quem recebia periodicamente pincéis e tintas. A coleção é constituída por um álbum com numerosas aquarelas de surpreendente beleza. Grande parte da produção do artista encontra-se na Suíça, no Museu de Vevey, sua cidade natal.

“Seu talento rompeu os obstáculos da falta de recursos materiais e alcançou um desenvolvimento inesperado, tornando-se provavelmente o primeiro pintor da paisagem paranaense.”